A prática de exercícios físicos durante o percurso da vida é de extrema importância e torna-se essencial para envelhecermos com saúde e bem-estar. Inúmeros tipos de exercícios são sugeridos para as pessoas idosas, entre eles os exercícios multimodais por promoverem ganhos em diversas dimensões do ser humano, direcionados para o desenvolvimento de competências físico-motoras e cognitivas. O processo de envelhecimento leva a mudanças inevitáveis em diversos domínios da vida, incluindo a perda progressiva de funções fisiológicas e psicológicas. Neste contexto, é reconhecido que a atividade física e o exercício físico constituem estratégias não farmacológicas eficazes de promoção de um envelhecimento saudável (Frändin et al., 2016: Pereira et al.,2015).
Um dos grandes desafios de saúde pública passa por estimular as pessoas idosas a manterem-se fisicamente ativas, quer as que vivem em comunidade, quer as que vivem em instituições. A atividade física é considerada um dos métodos mais acessíveis de melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas idosas, sendo os seus benefícios multifacetados, abrangendo proporções físico-motora, cognitiva, afetiva e sociais.
Os exercícios multimodais intervêm sobre o nível de funcionamento global da pessoa e pode ser ajustado de acordo com a sua capacidade funcional, sendo adequados para as pessoas idosas no modo geral. Para entendermos melhor considera-se cognição as funções cognitivas que estão na base do funcionamento do indivíduo, sendo a atenção, percepção, memória, reconhecimento, linguagem, raciocínio, tomada de decisão e solução de problemas.
Assim, estudar de que forma o alcance da cognição é influenciada pela prática de atividade física, é por inerência, uma tarefa difícil. Os efeitos de um programa de gerontomotricidade sobre todos os aspectos da cognição é uma tarefa inexequível. Embora toda esta diversidade nas investigações, os resultados apontam que a prática de atividade física impacta positivamente no funcionamento cognitivo das pessoas idosas.
A hipótese use in or lose it (usar ou perder) prediz que a participação ativa em atividades intelectuais, sociais e motoras tem efeito protetor sobre o declínio associado ao envelhecimento (Bielak, 2010). O cérebro é bastante sensível ao ambiente e respectivo tipo de estimulação; sabe-se, por exemplo, que o exercício físico, o treino cognitivo, a meditação e certas atividades profissionais influenciam a organização cerebral e o próprio funcionamento cognitivo (Marmeleira, 2013). O exercício multimodal é benéfico para pessoas sem déficit cognitivo (Fabre et al., 2002; Marmeleira, Godinho, & Fernandes, 2009), mas também para aquelas com comprometimento cognitivo (Kounti et al., 2011; Suzuki et al., 2012). Por exemplo, estudos com condutores idosos mostraram que o exercício com uma forte componente perceptiva e cognitiva pode melhorar a atenção visual e a velocidade de processamento informacional (Marmeleira, Melo, Tlemcani, & Godinho, 2011). O número de estudos sobre o impacto do exercício multimodal em pessoas institucionalizadas é ainda escasso, mas com resultados muito satisfatórios. Uma das mais-valias do exercício multimodal é que devido às características de algumas das suas atividades tem o potencial de aumentar o nível de satisfação e motivação dos participantes (de Souto Barreto et al., 2016).
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PROGRAMAS DE EXCERCÍCIO MULTIMODAL
Não há um receituário para o trabalho em gerontomotricidade, mas sim princípios e objetivos fundamentais que devem orientar a seleção de atividades e de metodologias de trabalho. Isto também se aplica aos programas de exercício multimodal, os quais se caracterizam por incorporarem atividades que procuram influenciar diversas dimensões do ser humano - físico-motora, cognitiva, afetiva e social. Estudos da área cognitiva-motora apresenta que “as sessões de exercício multimodal devem incluir situações que impliquem a aprendizagem/aperfeiçoamento de tarefas motoras e a mobilização de diversos recursos cognitivos. Insere-se, aqui, a utilização regular de situações de dupla tarefa.” Frequentemente, as intervenções multimodais combinam treino cognitivo e exercício físico, os quais são conduzidos em sequência, ou simultaneamente, através de paradigmas de dupla tarefa (Law et al., 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Descrevemos algumas características das intervenções multimodais, com destaque as dimensões físico-motora e cognitiva, sendo que existem estímulos aos componentes físicos e cognitivos em períodos separados e outras em determinados momentos impliquem um esforço cognitivo significativo, sendo muitas vezes executados com paradigmas de dupla tarefa. O reconhecimento que o exercício multimodal tem impacto global na capacidade funcional da pessoa idosa em um modelo teórico sobre os mecanismos entre a relação positiva da prática de atividade física e a cognição.
Finalizando e pensando no trabalho dos técnicos ligados à área da gerontomotricidade achamos importante que sejam considerados um desenho de programas de exercício multimodal. O PIAFI através de diversas dinâmicas nas aulas de gerontomotrocidade insere o exercício multimodal que intervém sobre o nível de funcionamento global da pessoa e pode ser ajustado de acordo com a sua capacidade funcional. Utilizando situações de dupla tarefa proporcionando aos seus alunos estímulos físico-motor, cognitivo, intelectuais e sociais.
VERA LÚCIA DE OLIVEIRA
Estagiária Programa PIAFI – 6º semestre – Bacharelado em Educação Física – Centro Universitário Leonardo da Vinci – Sociedade Educacional Leonardo da Vinci s/s LTDA - UNIASSELVI
REFERÊNCIAS:
Bielak, A. A. (2010) How Can We Not ‘Lose It’ if We Still Don’t Understand How to ‘Use It’? Unanswered Questions about the Influence of Activity Participation on Cognitive Performance in Older Age - A Mini-Review. Gerontology, 56(5), 507-519. doi: 10.1159/000264918
Fabre, C., Chamari, K., Mucci, P., Masse-Biron, J., & Prefaut, C. (2002) Improvement of cognitive function by mental and/or individualized aerobic training in healthy elderly subjects. International Journal of Sports Medicine, 23(6), 415-421. doi:10.1055/s-2002-33735
Frändin, K., Grönstedt, H., Helbostad, J. L., Bergland, A., Andresen, M., Puggaard, L., ... Hellström, K. (2016) Long-Term Effects of Individually Tailored Physical Training and Activity on Physical Function, Well-Being and Cognition in Scandinavian Nursing Home Residents: A Randomized Controlled Trial. Gerontology, 62(6), 571-580. doi:10.1159/000443611
Kounti, F., Bakoglidou, E., Agogiatou, C., Lombardo, N. B. E., Serper, L. L., & Tsolaki, M. (2011) RHEA, a Nonpharmacological Cognitive Training Intervention in Patients With Mild Cognitive Impairment: A Pilot Study. Topics in Geriatric Rehabilitation, 27(4), 289-300. doi:10.1097/TGR.0b013e31821e59a9
Marmeleira, J., Melo, F., Tlemcani, M., & Godinho, M. (2011) Exercise can improve speed of behavior in older drivers. Journal of aging and physical activity, 19(1), 48-61. doi: 10.1123/japa.19.1.48.
Marmeleira, J. (2013) An examination of the mechanisms underlying the effects of physical activity on brain and cognition. European Review of Aging and Physical Activity, 10(2), 83-94.