O treinamento neuromuscular TN (ou treinamento de força TF, ou treinamento resistido TR), popularmente conhecido no Brasil como musculação, é um exercício físico estruturado, que busca de forma planejada trabalhar os diferentes grupamentos musculares, visando melhorar a aptidão física e atividades da vida diária (AVDs), também é bastante praticado para fins estéticos, esportivos, entre outros.
No processo de envelhecimento, é um dos modelos mais estudados pela ciência atualmente, visto estar diretamente relacionado à melhora da fragilidade funcional geral. Segundo Westcott (2012), a musculação demonstra reduções na pressão sanguínea de repouso, melhora o perfil lipídico e a condição vascular do praticante, podendo ser indicado tanto para indivíduos que já possuem enfermidades, quanto para os saudáveis, seja para atuação na manutenção da saúde ou prevenção de doenças, “mostrando como um percussor incontestável de saúde, viabilizando tanto a prevenção, quanto o tratamento de várias doenças sistêmicas ou não” (SILVA FILHO, 2013, p.333).
Durante o envelhecimento, vários processos podem ocorrem com os idosos, como: problemas fisiológicos, tais como a perda da massa/tecido muscular (sarcopenia), perda de massa/tecido ósseo (osteopenia seguida por osteoporose), perda da potência muscular (velocidade para as AVDs), declínio metabólico, ganho de gordura, diabetes Tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias, e outras causas de mortalidade (WESTCOTT, 2012; WATSON, 2017).
Nesse sentido, alguns autores sugerem que a musculação é como uma dose não medicamentosa, que pode trazer vantagens à saúde por si própria; ou ainda, aliada às terapias com fármacos em geral, potencializando seus efeitos. Segundo Ferrari et al., (2020), os exercícios resistidos são indicados como terapia não farmacológica tanto no tratamento quanto na prevenção de algumas patologias, especialmente as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), podendo contribuir para adaptações favoráveis nas respostas das funções cardiovasculares.
Existem diversas opções medicamentosas no mercado para tratamento ou diminuição da severidade dos diversos males já relatados; mas apesar de serem uma boa opção, a modificação do estilo de vida é a primeira linha sugerida por diversas organizações e órgãos governamentais. Afinal: um envelhecimento ativo, conduz a uma qualidade de vida e gera independência, protagonismo e autorrealização; dimensões correlacionadas aos aspectos mentais e sociais (RODRIGUES, RAUTH, TERRA, 2010).
Chodzko-Zajko et al., (2009), em publicação científica, lista o posicionamento do American College of Sports Medicine sobre a recomendação da prática de exercícios e atividades físicas para idosos, mensurando que séries de 8 a 12 repetições, em 8 a 10 exercícios para os grupos musculares maiores, executados em velocidade controlada, são sugestões para a prescrição do treinamento resistido para esta população, destacando que podem ser realizados de 2 a 3 dias por semana, atentando-se para a prática em dias não consecutivos.
Por sua vez, o Ministério da Saúde, em 2021, lança o Guia da Atividade Física para a População Brasileira com seção específica aos idosos, recomendando um tempo de 150 minutos semanais para atividades moderadas ou 75 minutos para atividades vigorosas, destacando:
Atividades de fortalecimento dos principais músculos (costas, abdômen, braços e pernas) e de equilíbrio devem ser realizadas de duas a três vezes por semana em dias alternados, principalmente, para melhorar a capacidade de fazer as atividades do dia a dia e prevenir quedas. (BRASIL, 2021, p. 29).
Essas orientações têm dado embasamento para a musculação poder contribuir como o ganho de força muscular, com efeitos positivos na composição corporal (aumento de massa magra — hipertrofia muscular, diminuição de massa gorda e aumento da densidade óssea), fatores que reduzem o risco de quedas, problema enfrentado pela população idosa; não só mas também, a musculação pode trabalhar coordenadamente à flexibilidade por meio das amplitudes dos movimentos, além do equilíbrio estático e dinâmico; gerando ganhos de força, melhorando o desempenho funcional e a marcha dos idosos (CADORE et al., 2013).
No PIAFI, estimulamos os(as) alunos(as) à autonomia nos treinos, de modo que ao início, com a orientação dos instrutores, as pessoas idosas recebem uma prancheta e um lápis, junto à ficha de treino; desta forma eles realizam os exercícios com a responsabilidade de registrar o exercício executado e a carga, executando assim, uma atividade de dupla-tarefa. Os treinos são periodizados pelas Coordenadoras Técnicas da Equipe PIAFI, conforme os princípios do treinamento físico — com grande atenção à individualidade biológica e à especificidade clínica ou patológica de cada idoso.
Tatiane Soares José
Acadêmica do Curso Bacharelado em Educação Física da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul - 7º semestre
Estagiária de Educação Física – Equipe PIAFI
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de Atividade Física para a População
Brasileira. 2021.
Cadore E.L.; Casas-Herrero; A., Zambom-Ferraresi,F.; et al. Multicomponent exercises
including muscle power training enhance muscle mass, power output, and functional
outcomes in institutionalized frail nonagenarians. Age (Dordr), 36(2), 773-85, 2014.
Chodzko-Zalko, W. J.; Proctor, D. N; Fiatarone Singh., M.A.M.D.; Minson, C.T.; Nigg,
C.R.; Salem, G.J.; Skinner, J.S. Exercise and Physical Activity for Older
Adults (Position Stand American College of Sports Medicine/ACSM). Medicine &
Science in Sports & Exercise, 41(7) 1510-1530, july, 2009.
Ferrari, R., Cadore, E. L., Périco, B., Kothe, G. B. Acute effects of body-weight
resistance exercises on blood pressure and glycemia in middle-aged adults with
hypertension. Clinical and Experimental Hypertension. 43(1), 63-68, 2020.
Rodrigues, N. C.; Rauth, J.; Terra, N. L. Gerontologia social para leigos. 2ª Edição.
Porto Alegre: Editora Universitária da PUCRS, 2010. 112p.
Silva Filho, J. Treinamento de força e seus benefícios voltados para um
emagrecimento saudável. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do
Exercício. 40(7). 329-338, 2013.
Watson, S. L.; Weeks, B. K.; Weis, L. J; Harding, A. T.; Horan, S. A; Beck, B. R. High-
Intensity Resistance and Impact Training Improves Bone Mineral Density and Physical
Function in Postmenopausal Women With Osteopenia and Osteoporosis: The
LIFTMOR Randomized Controlled Trial. Journal of Bone and Mineral Research.
XX(XX). 1–10, 2017.
Westcott, W. L. Resistance Training is Medicine: Effects of Strength Training on Health.
Current Sports Medicine Reports. 11(4) 209-216, 2012.